Paulo diz em suas cartas, que
nosso corpo mortal será transformado. Não disse transfigurado, nem
transubstanciado. Disse que o hoje corruptível atingirá pelo milagre de Deus, a
incorruptibilidade ( Fl 3,21; 1 Cor 15,54) ( 1 Ts 4,13-18) Jesus interferirá em
cada vida e em todas as vidas. Ele pode interferir, mas nós não! Só podemos
pedir que ele interfira.
Pode Deus, que é ser essencial,
virar matéria? Não. Pode ele assumir a matéria que criou? Sim. Pode a matéria
virar Deus? Não. Pode ser assumida por Deus? Sim. O Filho eterno, ao se
encarnar, virou humano e deixou de ser Deus? Não. Prosseguiu Filho Eterno,
mesmo assumindo nossa natureza? Sim. Jesus era duas pessoas? Não. Era ele uma
pessoa dentre as três pessoas que é o Deus uno e Trino? Sim. A pessoa que ele
era, com a encarnação passou a ter duas naturezas? Sim. Então, na eucaristia
Jesus não se transubstancia em pão e vinho porque, sendo Deus ele permanece
sendo quem é. Não se torna outra coisa nem outro ser. Quem se transubstancia é
a matéria pão e vinho.
Pão e o vinho ao se
transubstanciar se tornam Deus? Não. Permanecendo pão e vinho, ganham algo de
acréscimo. Por isso oramos dizendo: Vinde Senhor Jesus! Não é o pão que sobe ao
céu e se torna Cristo. É o Cristo que vem e dá subsistência especial ao pão e
ao vinho que ofertamos. O pão não qualifica Jesus. É Jesus que prometeu que
qualificaria o pão repartido em seu nome e naquele gesto. O milagre não estava
oculto no pão. Aconteceu no pão porque Jesus mais uma vez interfere numa coisa
e lhe dá consistência e sentido. Sem isso, nada aconteceria até porque não
temos o poder de interferir na matéria: Jesus tem. Tanto tem que desafiou seus
adversários e curou ali na sua frente um prisioneiro da matéria. Ele podia! Ele
pode!
É real, é corpo e sangue do
Cristo glorioso mas não é aquele sangue derramado na cruz. Trata-se do sangue
do Cristo da fé, do Cristo glorioso que não sofre mais. Na eucaristia não
comungamos o Cristo sofredor e, sim, o Cristo vencedor e ressuscitado. E antes
que digamos que é apenas símbolo perguntemos se Jesus Cristo é só um símbolo.
Se ele é real e existe glorioso então aquele pão, que ele tem poder de
transubstanciar, mais do que conter um pouco dele, é ele próprio. Foi seu jeito
de estar conosco, que não tivemos a graça de conviver com ele como os apóstolos
tiveram. Transubstanciar o pão e o vinho não foi nem é decisão nossa. Foi e é
dele. Só ele pode interferir na matéria ao ponto da transubstanciação. A
ciência humana apenas pode transformá-la, nunca transubstanciá-la. É por isso
que falamos em milagre. Se a ciência conseguisse o mesmo, então a eucaristia
não seria milagre.
Nós cremos que Deus se encarnou sem deixar de ser divino. Cremos que o pão e o
vinho se transubstanciam e deixam de ser apenas pão e vinho. A matéria pode ser
tocada e transformada, como nossa vida o será, mas o Filho que é um só Deus com
o Pai e o Espírito Santo, mesmo tendo assumido a nossa humanidade não foi
transformado em carne. Não era só homem. Permaneceu divino. Tinha duas
naturezas, mas era a mesma pessoa, o mesmo Filho Eterno que sempre foi. Por um
tempo se transfigurou nos assumiu, mas não deixou sua divindade descansando em
algum lugar.
Esta discussão levou séculos. Até
o Século VIII quando o “Credo” que hoje recitamos foi definitivamente
sancionado, ela não estava oficializada. Ainda pairavam dúvidas entre os
cristãos sobre presença virtual ou real, sobre sangue físico e sangue glorioso.
Deus pode interferir e transubstanciar algo, mas este algo não pode
transubstanciar Deus, nem por próprio poder se transubstanciar no que quer que
seja. Não confundamos transformação com transubstanciação. Transubstanciar é
algo bem mais radical. A matéria criada não pode dar um passo além do que é,
mas o criador da matéria pode dar a ela algo que ela não tem. É aí que começamos
a falar em prodígio ou milagre. Jesus disse que faria isso porque todo poder
lhe foi dado.
Pode um ser humano ter tal poder?
Jesus podia e pode. Se negarmos que este ser humano que ele se tornou sem
deixar de ser divino tenha tal poder então estaremos negando Jesus e embora,
crentes nele, estaremos afirmando que ele era apenas um profeta. Algumas vezes
ele fez uso deste poder ressuscitando pessoas e transfigurando diante dos três
discípulos. Nas suas preces ele falava desta glória e deste poder. Mas os discípulos
tiveram medo diante do que viram. Se nas eucaristias Jesus descesse visível e
glorioso, brilhante como o Sol, como no Tabor, acreditaríamos na Eucaristia?
Teríamos coragem de olhá-lo? Os três discípulos não tiveram. O que nos garante
que seriamos mais fortes do que eles?
Jesus é mais e pode mais. A nós é
permitido questionar ou aceitar que Jesus está presente na eucaristia. Tendo
feito a escolha de aceitar ou não aceitar este milagre, seremos ou católicos ou
não católicos.
Pe. Zezinho, SCJ

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