Uma vez, em uma das reuniões de
formação da Comunidade Católica Shalom, tivemos uma pregação sobre a
“intimidade com Deus”. A palestra nos foi dada por uma irmã consagrada a esta
obra. Lembro-me o quanto fiquei tocado com suas palavras. Nossa irmã de
Comunidade nos falava de uma experiência que ela viveu, durante uma confissão,
na qual o padre e ela fizeram, juntos, uma releitura do momento em que Adão e
Eva pecaram e de como Deus reagiu naquela ocasião.
O padre perguntou como ela
imaginava a reação do Senhor no jardim, depois de saber que Adão e Eva haviam
pecado. Ela respondeu, se não me falha a memória, que Deus teria entrado
chateado, triste, porque eles O haviam desobedecido. Porém, o padre lhe disse que
ela estava enganada.
Quando o Pai apareceu no Jardim
do Éden, não chegou chateado ou triste, mas apressado e correndo, porque Seus
filhos haviam pecado. Ele sabia que Seus amados filhos, criados à Sua imagem e
semelhança, estavam em perigo, pois romperam com Seu plano de amor para eles. O
Senhor correu para socorrê-los. Mas qual foi a reação de Adão e Eva?
Esconderam-se, achando que o Pai, ao entrar no jardim, iria condená-los.
É assim também que, muitas vezes,
reagimos quando pecamos. Muitos de nós jovens ainda trazemos, em nossa
mente, a imagem de Deus como um castigador, como Alguém distante de nós, que
está com um “caderninho”, anotando tudo o que fazemos de errado ou de certo. Um
Deus que está bem no alto, enquanto nós, pobres pecadores, estamos aqui
embaixo, longe d’Ele.
Imaginando o Senhor como alguém
distante ou castigador, acabamos por nos afastar ainda mais d’Ele, pois
pensamos que nunca iremos vencer os nossos pecados e, assim, não conseguiremos
ser verdadeiros cristãos. Como nos enganamos ao pensar assim! Como pecamos mais
ainda ao vê-Lo dessa maneira!
O Senhor não é e nunca será um
Deus castigador. Ele é amor que não se cansa de amar. Ele não fica chateado,
triste ou com raiva quando pecamos. Sua ação é a mesma de sempre, desde quando
Adão e Eva pecaram. Quando caímos no pecado, a primeira reação do Pai é
correr para junto de nós, para nos ajudar a levantar e a vencer. Deus é amor,
justiça e compaixão!
Na passagem do filho pródigo
(Lucas 15,11-32), lemos sobre um jovem que optou por deixar a casa do pai para
viver sua vida de maneira desregrada. Também lemos sobre esse pai que, ao ver
seu filho voltar arrependido de tudo o que fez, correu para encontrá-lo e lhe
deu um abraço (cf. Lucas 15,20). Ainda mais: ele deu ao seu filho novas vestes,
novo anel, novas sandálias, mandou matar um novilho e fez uma festa. Enfim,
restaurou a dignidade do filho, pois este “estava morto e reviveu; estava
perdido, e foi achado” (Lucas 15,32).
Quanta ternura havia no coração
desse pai! Quanto afeto por esse filho e quanta misericórdia! É possível
imaginarmos, ao ler essa passagem, o pai, dia após dia, olhando a estrada, ao
longe, com um olhar de esperança, de expectativa, de saudade e lembrança… É
possível também imaginarmos o nosso Pai do Céu a nos contemplar com esse mesmo
olhar de misericórdia.
Peçamos a graça de enxergarmos a
Deus como o Pai que sempre ama Seus filhos. Assim como Ele corre para junto de
nós quando caímos, também nós precisamos ter o desejo de correr para junto
d’Ele e deixar que Ele, com Seu amor, cure nossas feridas, dando-nos o abraço
do perdão, as vestes e as sandálias de uma dignidade nova.
Corramos para o Senhor na
confissão, para que nos reconciliemos com Ele e recebamos todas as graças
advindas da misericórdia perfeita. Busquemos o nosso Deus vivo, ressuscitado,
que nos salvou, presente na Eucaristia. Tenhamos a mesma atitude do filho
pródigo, que não se escondeu como Adão e Eva na sua situação de pecado, mas
reconheceu quem ele era, ou seja, necessitado do pai, do seu amor e
humildemente voltou. O Pai, por Sua vez, nos acolherá com alegria. Voltemos e,
juntos, cantemos: “Queremos correr ao Seu encontro. Arrasta-nos, Senhor,
inflama-nos de amor”.
Leonardo Tertuliano
Comunidade Católica Shalom
Fonte:Destrave - Canção Nova

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